Os operadores de televisão por cabo pretendem aumentar os preços dos seus serviços para cobrir as estruturas de custos, penalizadas pela forte desvalorização cambial iniciada em Maio deste ano, apurou o Expansão. Já as operadoras telefónicas descartam, pelo menos para já, esses aumentos que têm de ser aceites pelo INACOM.
A DSTV e a Tv Cabo referem que os custos não param de subir e que, por isso, estão obrigadas a aumentar preços aos seus clientes, mas que, até agora, essa vontade tem sido travada pelo Instituto Angolano das Comunicações (INACOM), regulador do sector, visto que os preços dos serviços de "comunicações eletrónicas são fixados pelos titulares de departamentos ministeriais que superintendem as comunicações eletrónicas e as finanças", de acordo com Regulamento Geral das Comunicações Electrónicas, decreto presidencial nº 108/16 de 25 de Maio. "Estamos a aguardar uma autorização do Governo, sem colocar pressão, mas cientes de que se esta situação se mantiver de forma prolongada iremos ter de tomar decisões mais difíceis para salvaguardar a sustentabilidade do nosso negócio", avançou ao Expansão Estefânia Sousa, directora de assuntos corporativos da Multichoice Angola, "dona" da DSTV, em resposta a questões do Expansão. A operadora do grupo sul-africano Multichoice, que está cotado na bolsa de Joanesburgo, tem responsabilidades acrescidas com os accionistas e investidores e a "actual situação económica está a colocar à empresa novos desafios para cumprir com essas expectativas", disse a Estefânia Sousa. E o mesmo acontece na Tv Cabo. Para a actividade dos operadores de televisão por satélite e a cabo, todos os equipamentos instalados nas residências dos clientes são comprados lá fora, o que faz com que cada vez que o Kwanza desvalorize acaba por agravar os custos da estrutura. "Falámos com o regulador e explicámos tudo, mas o INACOM justifica que serviços de comunicações eletrónicas são considerados sensíveis e a conjuntura económica não é agradável", lamenta Francisco Ferreira, director geral da Tv Cabo. Mas esta solicitação de alteração dos preços ao INACOM não é de hoje, pois os operadores têm estado a fazer pressão permanente, até porque o mercado cambial angolano é muito volátil, com crises cíclicas. Ainda assim a tarifa tem-se mantido inalterada, uma vez que os preços não são actualizados desde 2019. A Zap, outra operadora do mercado no segmento por satélite e a cabo, através da Zap Fibra, não respondeu ao questionário do Expansão até ao fecho da edição. Mas o Expansão apurou que os responsáveis da empresa estão apreensivos em relação à conjuntura actual. Número de assinantes pode voltar a cair Depois de o número de subscritores de TV por assinatura ter crescido 16%, para 335.005 entre o III e o IV trimestre de 2022, período em que foi realizado o Mundial de Futebol no Catar, a crise cambial pode deitar tudo a perder devido à quebra do poder de compra dos angolanos devido à forte desvalorização cambial (38% desde 11 de Maio) e à subida dos preços dos bens de consumo. Para o regulador, travar a subida das tarifas significa assegurar o acesso e utilização de comunicações electrónicas acessíveis ao público através de um tarifário adequado, justo e uniforme, de acordo com o Regulamento Geral das Comunicações Electrónicas. A desvalorização cambial não afecta na mesma proporção os custos de operação dos operadores, pelo que apesar da moeda nacional ter perdido 38% do valor face ao dólar o aumento dos preços dos pacotes das operadoras nunca seria na mesma proporção. Ainda assim, nesta fase em que os angolanos têm de apertar o cinto, uma subida dos preços dos serviços das operadoras por "empurrar" os clientes para a informalidade. Ou seja, os piratas "estão à espreita", tal como aconteceu em 2019, altura em que a crise económica e a pirataria chegaram a roubar perto de 300 mil subscritores entre 2020 e 2021 às três operadoras, nomeadamente Zap, DSTV e Tv Cabo. |